sexta-feira, 19 de outubro de 2012

HÉROIS



Você tem (ou teve) um herói?
Normalmente, é na infância que elegemos nossos heróis. Primeiramente podem ser os pais ou pessoas próximas e depois os dos desenhos animados, histórias em quadrinhos, filmes de ação.
Herói é aquele coisa meio mítica, meio irreal, que faz parte de nossas fantasias. Escolhemos esse ou aquele por representar qualidades que nós temos (e não sabemos) ou que gostaríamos de ter algum dia.
A wikipedia traz uma definição bem interessante:

Herói é uma figura arquetípica, que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional, um determinado problema de dimensão épica. Do grego ‘hrvV, pelo latim heros, o termo herói designa originalmente o protagonista de uma obra narrativa ou dramática. Para os Gregos, o herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral filho de um deus e uma mortal (Hércules, Perseu), ou vice-versa (Aquiles). Portanto, o herói tem dimensão semidivina.
Nunca fui muito de idolatrar pessoas ou mesmo de ter heróis. Sempre digo que meu ídolo, meu modelo preferido, é Jesus. Tenho muita admiração por ele. Mas, ultimamente, uma pessoa que não tem essa importância divina, que é bem terreno mesmo, tem chamado minha atenção e conquistou minha admiração. Trata-se do presidente do Supremo Tribual Federal, Carlos Ayres Britto. O texto abaixo, nos informa sobre sua aposentadoria.

“Sergipano, Ayres Britto foi indicado para o STF pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. O ministro assumiu a presidência da corte no dia 19 de abril de 2012, nove anos após ingressar no tribunal.
A gestão do ministro que presidiu o julgamento do mensalão, o maior da história do STF, terá exatos sete meses de duração. Em situações normais, os mandatos dos presidentes do tribunal se estendem por dois anos.
O curto mandato do ministro Carlos Ayres Britto na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) já tem data para se encerrar: dia 18 de novembro, data em que ele completa 70 anos.
A Constituição determina que os servidores públicos têm de se aposentar, compulsoriamente, aos 70 anos.”


Quando soube disso, lamentei profundamente. Não lembro quando passei a admirá-lo, mas certamente foi justamente pelo seu modo íntegro, honesto e direto de ser.
Lembro de vê-lo discursando, seja como relator ou como 'julgador', mas sempre dizendo as verdades mais cruas com um sorriso e um olhar direto para a pessoa que estava sendo julgada. Assim, corajosamente, claro, direto. Gosto disso!
Ainda mais por que me acostumei a não crer em políticos e nem no judiciário.
Recolhendo da internet o texto abaixo, dá pra ter uma noção de seu pensamento:

“Em seu discurso de posse, Britto enalteceu a Constituição Federal, a qual considera a “menina dos olhos da democracia”. “A Constituição conferiu ao magistrado o dever de guardá-la sobre pau e pedra, o que faz do compromisso de posse uma jura de amor”, disse. E anunciou que, como presente de posse, vai distribuir, aos ministros e convidados, uma versão atualizada da Constituição Federal.”
Ainda durante a posse “o ministro Celso de Mello, citou alguns julgamentos importantes dos quais Ayres Britto foi o relator. Entre eles, o que liberou o uso de células-tronco embrionárias para pesquisas científicas, o que autorizou a união civil homossexual e o que discutiu a demarcação de terras indígenas da Reserva Raposa Serra do Sol.

Esse modo de ver as coisas, de interpretar as Leis, nos mostra uma pessoa com a mente aberta, sem preconceitos, que evoluiu. Não se deixa intimidar por opiniões contrárias e diz aquilo que pensa, faz o que acha certo.
Acostumamos a nos decepcionar com os mandatários da Nação, com aqueles que detém o Poder, mesmo que temporariamente. Nos acostumamos a ver imperar a injustiça, a ver grassar a desonra, o desrespeito com a coisa pública. E até mesmo com a corrupção temos tido tolerância. Muitos políticos são desmascarados, com provas mais do que suficientes, mas nunca são condenados.
Ou melhor, não eram...
Infelizmente, quando surge alguém calmo, tranquilo, que fala as verdades abertamente, sem se alterar e com um sorriso no rosto, essas mesmas Leis, sempre tão conspurcadas e injustamente interpretadas, aplicadas, precisam ser cumpridas. Ele se aposentará.
Ayres Britto é um raro exemplo de sensatez, sobriedade e integridade. E de unanimidade.
Espero nunca descobrir algo que desabone essa imagem que faço dele, embora tenha descoberto ao longo de minha vida, que até mesmo os heróis são falíveis...
Valeu, Ayres Britto!







quarta-feira, 3 de outubro de 2012

ROTINAS




Acredito que a maioria de nós tenha rotinas. Principalmente quem trabalha fora e precisa dela pra se organizar. Quem fica em casa também, por que senão as coisas desandam, viram um caos.
Mas, Meu Deus, como a rotina pode ser benéfica e massacrante ao mesmo tempo! Nossa!
Já viu o filme Feitiço do Tempo? É um filme com Bill Murray, mas que está sempre repetindo (um paradoxo isso, não?). Abaixo, a sinopse comentada:
Um evento inexplicável mantém um repórter especializado em meteorologia vivendo sempre o mesmo dia. À primeira vista, “Feitiço do Tempo” (Groundhog Day, EUA, 1993) é apenas uma simpática e despretensiosa comédia com um pequeno toque de realismo fantástico, na tradição de obras como “A Felicidade Não se Compra”. O filme de Harold Ramis funciona perfeitamente nesse nível elementar, mas é também uma parábola sobre crescimento e maturidade. Em resumo, o filme funciona como uma fábula sobre como alguém pode aprender a utilizar em proveito próprio as dificuldades da vida, usando-as para se tornar uma pessoa melhor.”
Ou seja, embora os eventos se repitam, todos os dias ele tem a oportunidade de mudar as coisas, de fazer diferente. Consequentemente, alterando o resultado.


Me peguei nesse Feitiço do Tempo inúmeras vezes, mas ultimamente chega a ser surreal.
Semana passada, estava indo trabalhar e, em determinado ponto da minha rua, vem outro carro na direção contrária. Ao passar por mim, olho para o interior e vejo um homem, camiseta branca, bocejando e se espreguiçando. No dia seguinte, exatamente no mesmo ponto, a cena se repete. Mas era tudo igual mesmo! Até a mesma camiseta branca, o mesmo jeito de se esticar, tudo! Por um segundo fiquei desnorteada, sem saber que dia era.

Quando estaciono meu carro, próximo ao trabalho, encontro uma moça, que sai do prédio em frente, atrasada para pegar um ônibus. Outro dia, vi o motorista parar fora do ponto, pois ela se atrasou mais do que o normal (ou ele se adiantou, não sei). E TODOS (!) os dias, é aquela correria dela pra pegar o ônibus.
Ao passar por outra moça que leva o cachorro pra passear, TODOS os dias, quando me aproximo, ele está lá, fazendo xixi na mesma árvore, no mesmo horário.
Tem também a moça que sai da garagem (com dificuldade, pois é estreita), quando eu me aproximo e vai na contramão por um pedacinho da rua até chegar a um estacionamento e sair pela rua em frente (todos os dias ela tem a rotina de cometer a mesma infração).
As rotinas nos fazem bem quando dão segurança, mantendo nossa organização, garantindo que tudo saia como o planejado. E só.
No mais, a rotina empobrece nosso dia, pois o faz sempre igual, com pequenas alterações.
Não gosto desse comportamento maquinal, de esteira de fábrica, que é só repetição (aliás, seria o último lugar para eu trabalhar, por que não suportaria aquela mecanização do ser humano. Passaria o dia inventando um jeito de fazer as coisas diferentes, mais fácil, para mim e para os outros).

A rotina pode ser conveniente. Todos os dias ao ir para o trabalho passo pela mesma rua para entrar em outra. Embora tenha mais três opções de rua de atalho, mas essa facilita, por que é mais curta e não tem morros, como as outras. Mas fico enjoada de fazer aquele trajeto, tenho vontade de mudar.
Preciso sair sempre no mesmo horário, em virtude do trânsito, e isso também me cansa.

Ao mesmo tempo que a rotina dá segurança e conforto, ela me faz sentir refém. Preciso constantemente de estímulos e me sinto dividida entre me sentir segura ou estimulada. Gosto de novidades, fico mais alerta, os olhos mais abertos, a expressão mais alegre e, por isso, a rotina me deixa estressada. Gosto de tentar me adaptar ao novo, de ver como funciona, me encanto. Ao mesmo tempo, quando faço algo fora da rotina no meu dia, fico muito ansiosa até chegar o momento da mudança. Basta uma consulta médica, por exemplo. Passo o dia inteiro tentando planejar o passo-a-passo para que tudo dê certo. Ao mesmo tempo, se compro algo novo, principalmente eletrônico, quero saber como funciona e gosto de aprender sozinha, sem os manuais. Vibro a cada descoberta. Também gosto da coisa inesperada, do tipo “hoje a aula será diferente”.
Tem pessoas que são mais rígidas e não gostam da mudança na rotina por perderem o controle da situação e também pelo estímulo, pela novidade, que as incomoda. Têm dificuldades na adaptação.
Um local perfeito para esse teste é o de trabalho. A maioria resiste às mudanças, não se adapta e diz: “por que antes era assim...” Há a necessidade de um psicólogo organizacional para isso, para as transições, a fim de que as coisas e pessoas mudem gradualmente, gerando menos estresse e inconformismo (e até mais produtividade).
E aí? Preparado(a)? O que vamos fazer fora da rotina hoje?