Era domingo. Início de Dezembro.
Mal a tarde se iniciava e já fazia muito calor. E ainda nem
havíamos chegado ao verão!
Naquele shopping (?), ao final do corredor de entrada, logo a
esquerda, um trono encostado à parede. Um homem, vestido de vermelho, barba
branca e suando em bicas estava sentado nele. O tal homem, idoso, na verdade
não estava exatamente ‘sentado’, mas escorado naquele trono. Segurava a cabeça
com uma das mãos e parecia que respirava com dificuldades. As pernas, esticadas,
e o sofrimento estampado em sua face afogueada, rubra, em função do calor que
devia estar sentindo. Era Papai Noel.
Papai Noel??!! Sim, ele mesmo. As lojas mal haviam sido
abertas, o público ainda chegava, tímido (provavelmente deveriam estar se
refrescando numa praia ou em frente ao ar condicionado ou ventilador).
O nosso Papai Noel aguardava pelos seus pequenos fãs, mas
podia-se notar que sofria horrivelmente naquelas roupas quentes, naquele
corredor mais quente ainda e não parecia ter a menor disposição de receber ninguém,
ainda mais por uma tarde inteira.
Senti muita compaixão por aquele velhinho que, para ganhar um
extra, se dispunha a enfrentar horas sentado naquele calorão, ouvindo crianças
e mais crianças, algumas assustadas, outras chorando e outras certamente puxando-lhe
as barbas (neste caso, me pareceu serem reais).
Saí dali pensando nas tradições e na sua incoerência. Sou uma
pessoa muito prática e sempre questiono aquilo que fuja do coerente.
Pensei que adotamos, aqui no Brasil, muitas tradições que
nada tem a ver com nosso clima ou costumes, ou mesmo cultura. O Natal é uma
delas.
Natal, na verdade, é a comemoração do nascimento de Jesus
Cristo para os cristãos. Adotamos, porém, a outra versão para ele, que tem a
ver com os povos nórdicos, onde um velhinho bondoso, que gostava de distribuir
presentes em certa época, chamado Santa Claus, simboliza essa troca, a bondade,
etc.
O dito velhinho, usava uma roupa vermelha e quente.
E as pesadas botas, as luvas, o gorro (!) e o casacão, em
veludo (!!) ? Certamente para enfrentar esse tempo que faz aqui nessa época...
“Ah, mas ele vem do Pólo Norte”, justificam. Fala sério!!
Os pobres (e agora mau-humorados) ‘velhinhos’, vez ou outra
puxam a máscara ou barba falsa para se refrescarem. Em frente às lojas, muitos
sacodem sinos para chamar clientes e ao mesmo tempo, se abanam (até mesmo com o
próprio sino! Vale tudo!).
É penoso ver que uma tradição não tenha se adaptado ao clima
tropical do nosso país e obrigue a todos a essa incoerência.
E as frutas secas, nozes, rabanadas, panetone e demais
guloseimas, bem calóricas, energéticas, pra enfrentarem os dias quentes que faz
nessa época. Para os países frios faz todo sentido, mas...aqui??!!
Nos comerciais na tv, vi outro dia uma menina brasileira,
vestida numa linda camisola xadrez, de flanela (!!), e que deitava-se em frente
a uma lareira, num pequeno sofá, para esperar pelo Papai Noel. Pode??!!
Lareira? Flanela? No verão??!!
É inacreditável como até hoje não se questionou isso e
procurou-se mudar, adaptar ao nosso clima. Talvez até alguém questione, mas
quem de direito (os lojistas talvez), não mudam (por que senão ‘não terá a cara
do natal’, certamente pensam) a tradição e criam uma nova cultura. Pode-se
perfeitamente comemorar o natal da mesma forma, de maneira mais correta, sem
tanto sofrimento e certamente, muito mais inteligente.
Ou será que se a tradição tivesse sido iniciada aqui o nosso
papai Noel tropical, de bermudas, camisa floral, chinelos, seria adotado nos
Estados Unidos, em pleno inverno? Será que teríamos por lá, papais noéis
tremilicantes, congelando no frio extremo que faz nessa época do ano nesse
país?
De qualquer modo, com frio ou calor, tenha um
FELIZ NATAL !!!
E o Jesus do natal, como fica?? cada vez menos vemos o presépio que simboliza sua simplicidade e nascimento.Uma his´toria que faz todos os sentidos! Há dois mil anos Ele não encontrou lugar para pousar e hoje tudo se repete. os presentes, muitas vezes caros, que compramos em nada simboliza, os presentes que os reis magos deram a ele. O que simbolizava o mehlor de si. Parabéns pelo oportuno e excelente texto que reflete o natal atabalhoado, consumista, frenético, hipócrita, fútil que vivemos e que a cada dia se distancia mais da sua essencia e sentido! Parabéns
ResponderExcluirQuésia Cunha