quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

ANOS 90


Engraçado como a gente vai ficando ‘mais experiente’ (pra não dizer velha) e começa a lembrar de coisas do passado...Sempre achei saudosismo uma coisa chata, parece gente que não aceita viver o presente, fica o tempo todo no passado...mas também li que à medida que ficamos velhos, nossa memória vai cada vez mais recuada no tempo, mais pra trás a cada dia, e podemos lembrar do que aconteceu há 20 anos atrás, mas não lembramos o que acabamos de comer...ao mesmo tempo é super interessante conversar com gente idosa, que conta como eram aqueles tempo de sua juventude, como tudo era bem diferente da correria de hoje.
E como uma coisa liga a outra, outro dia lembrava dos anos 80 e hoje, dos ’90.
Acho que os anos 90 foi uma época de muitas novidades tecnológicas, principalmente.
Lembro de quando vi o primeiro celular. E pensar que vivíamos sem ele! Um amigo do trabalho chegou com um daqueles primeiros celulares (que hoje mais parecem um telefone sem fio), um ‘tijolão’ na cintura, se achando o máximo, por que era um dos primeiros...Lembro de estar na rua e caminhar quilômetros atrás de um orelhão. E ainda ter que ter fichas (pra quem não sabe são umas moedinhas, ásperas, que só se usava pra telefonar e que acho que não existem mais)!
Lembro da primeira vez que vi e usei um computador. Foi no trabalho também. Eles eram enormes, na cor marfim, e quando vi o ícone da internet, cliquei, destemida, sem saber o que aconteceria. Meu chefe brigou comigo, por que ‘ficar usando a internet poderia sair muito caro’, mas logo foi esclarecido pelo departamento de informática (aliás, o que eles faziam antes disso?) que tínhamos uma conexão através da UFSC (Universidade Federal) e era gratuito. A internet foi paixão a primeira vista. Paixão, não, por que passa. Foi amor a primeira vista, por que até hoje sou apaixonada!
Um mundo de possibilidades, de descobertas, se abriu e hoje tenho contato com pessoas fisicamente distantes de mim, com amigos antigos, que o tempo tinha separado, tenho informação o tempo inteiro, enfim!
Nos anos 90, a moda era o pagode. Eu adorava o Grupo Raça Negra e afins. Dançar todo tipo de música era na boate Dizzy, na Beira Mar Norte. Muito Tim Maia, Jorge Benjor (na época era só Jorge Ben), até às 05:00h da manhã! Tinha também a boate Shampoo e a Baturité (também na Beira Mar. Esta última era uma casa de dois pavimentos com jardim de inverno e piscina. Lembro de ver o sol nascer da varanda) e a Metrô, no Estreito.
Nos anos 90 comecei a cursar a Faculdade de Psicologia e ia pra Itajaí (!) todo dia! Haja disposição!
Aliás, nesse quesito, ‘disposição’, é que percebo que realmente os anos passaram...cadê aquela energia pra virar uma noite numa boate ou show e ir trabalhar cedinho no outro dia? Ou ir pro trabalho pela manhã, faculdade (em Itajaí) à tarde e noite e tornar a acordar cedo e disposta no dia seguinte? E ainda balada nos fins de semana ou até pequenas viagens!
E por que hoje acho o som de boates e cinemas tão alto? Por que ir na Oktoberfest é tão cansativo?
Hoje, meus interesses são outros, é tudo mais calmo ou lento, e não trocaria minha idade atual para ter 20 anos outra vez, por que a experiência da maturidade nos deixa mais seguros, sem aquela aflição da ‘juventude’.
Acho que consegui viver bem minha juventude, aproveitei bem, e consigo olhar pra trás sem saudosismo, sem querer repetir tudo aquilo, mas com carinho, e também surpresa de que tudo pudesse ir acontecendo daquela maneira...Gosto de comparar o antes e o depois como, por exemplo, no caso da internet, do telefone celular...Como essas coisas facilitaram as nossas vidas! Mas também acho que o mundo está muito acelerado, as comidas estão cada vez mais artificiais, as relações cada vez mais superficiais, parece que a gente vai sendo atropelado, como quando estamos no mar e uma onda nos leva de roldão...
Hoje tudo é num clique e voilà! Tá pronto! Me adapto bem a isso, gosto de novidades, de tecnologia, de criatividade, de praticidade. Mas, às vezes, isso me deixa tremendamente ansiosa, por que me pergunto aonde vamos parar, nessa correria do dia-a-dia. Conheço pessoas que ficam estressadas se ficam sem celular ou internet. É quase um vício, uma dependência.
Às vezes, estou dirigindo e, durante meu trajeto, me percebo pensando em como deveriam ser aquelas estradas há uns anos atrás, quando, na verdade, elas nem existiam! As que existiam eram de chão batido e se levava um dia inteiro pra ir ao centro da cidade! Como as pessoas perdiam tempo, por que não tinham telefone e tinham que ir ‘in loco’ falar com alguém, comprar alguma coisa e descobrir que não tinha, ou o estabelecimento estava fechado...Mas, ao mesmo tempo, não se podia ter pressa, por que se sabia que tudo tinha seu tempo. As pessoas comiam feijão arroz, frutas, verduras e não iam ao Mc Donalds, nem tomavam refrigerantes...O frango, os ovos, as próprias frutas e verduras tinham outro sabor, por que não tinha nada artificial. Todos eram mais saudáveis, caminhavam muito e se alimentavam melhor. Hoje é engraçado observar as pessoas com camisetas, geralmente brancas, suadas e caminhando à esmo...apenas pra poder fazer exercício.
Essas comparações que a gente faz, têm o dom de querer nos fazer voltar às origens, porque descobrimos que ao acelerarmos o tempo, perdemos uma parte dele também...

CRÔNICA POSTADA EM 2011

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