GÍRIAS

A gente não sabe bem como começa, mas uma expressão, um jeito de falar, vai virando gíria, todo mundo sai repetindo e quando, se vê, virou lugar-comum falar as coisas daquele jeito.

Outro dia eu estava vendo um filme antigo da Marilyn Monroe (aliás, não dá pra ver filme atual dela, né?) em que ela usava óculos de grau, mas tinha vergonha e, por causa disso os tirava, esbarrando nas coisas e cometendo muitas gafes. Um cara, que ela conheceu num avião, lhe diz que também usa óculos e que isso não tem nada demais e que ela é mesmo 'um pudim'. Ela escancara um sorriso e dá pra gente perceber que isso é um elogio!

Não sou da geração que fala que uma mulher é um pudim quando quer elogiar, dizer que é bonita. Talvez por isso não entenda certas expressões e ache muito engraçado. Mas também é engraçado ver os 'coroas' não entenderem as gírias modernas. Aliás, isso sempre se repete, né? É um linguajar diferente, então quem não pegou essa onda de falar assim, não sabe sobre o que se quer realmente dizer. Lembro de quando surgiu a gíria 'sarado' pra dizer que alguém está com o corpo em forma e eu gostei e comecei a usar. Entre meus pares, fui uma das primeiras, acredito, por que sempre tinha que explicar o significado. Até que uma amiga, que aprendeu comigo a dizer 'sarado', usou a tal giria com outra pessoa, um homem mais ou menos da idade dela, uns 50 anos ( na época eu deveria ter uns 25 ou 30) e ele olhou pra ela, sem entender, mas complementou ' Claro! Vou ficar sarado, são, saudável! Sem precisar ir pro hospital!” Parecia conversa de louco. Ela falava de uma coisa e ele entendia outra.

Lembro que na minha infância minha mãe usava a expressão 'ele é um pão!' quando se referia a um homem bonito. Hoje se diz que ele é 'um gato'.

Há gírias que atravessam os tempos e se mantém. Por exemplo, como se pode dizer de outra forma que uma coisa é ' legal ' pra dizer que é boa, ótima? TODO MUNDO fala 'legal' !!

Descobri que essas duas últimas gírias, que até hoje falamos, gato e legal, são dos anos 60, sabia?

Outras que atravessam os tempos, que usamos até hoje de forma natural, sem parecer 'caretas' são:

papo furado, grana, pé-de-chinelo, é fogo, cara, cafona, dar o cano, entrar pelo cano, dar no pé, estar por fora, já era, barra, curtir, dançou...

E há expressões recentes, mas que a gente nem percebe mais que é uma gíria. Aliás, a gíria carateriza uma 'tribo', um jeito próprio de falar de quem é moderno ( ou pós-moderno, dependendo do caso). É divertido ver gerações diferentes conversando e usando gírias...Não se entendem e riem, riem...

Acho que hoje ninguém mais diz “é uma brasa, mora?” Mas usam “vai lá e arrasa, tá ligado? Só! Demorou! Só se for agora! Só é! Fui! Tô dentro! Tô fora! Se liga! Tô chegando (quando na verdade está indo embora)! Beleza?Tipo assim...

E ainda há as gírias regionais!

Por exemplo: Em São Paulo se fala Mano, Mina, etc...No Rio Grande do Sul não sei sobre gírias, mas sei que sempre dizem tri pra expressar que algo é 'legal'. Aqui em Santa Catarina, os legítimos manézinhos dizem que 'arrombássis!' Ou 'arrombas' ! Quando querem dizer que alguém 'estourou a boca do balão', fez algo que se superou.

Tem também as da internet, como deletar.

Enfim! São tantas as expressões e gírias que usamos pra nos comunicar que vamos falando sem mesmo perceber, mas há que se ter cuidado pra não haver pobreza de vocabulário e só conseguir se expressar assim. São pessoas que falam tantas gírias, o tempo todo, que nem sabem mais falar português!

E, pra fechar, como diria o Velho Guerreiro Chacrinha, “Quem não se comunica, se trumbica!”

CRÔNICA POSTADA EM 10.06.2011