quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

RECOMEÇAR


Estava assistindo ao meu seriadinho habitual, Os Pioneiros. Não pude assisti-lo todo, mas o começo já me deu a idéia de escrever sobre o assunto. A família Ingalls estava dormindo, quando acodaram com um barulhão. Charles Ingalls abriu a porta da casinha deles e um vento forte quase o carregou. Ele entrou assustado em casa anunciando um furacão e levando sua família para o abrigo que tinham nos fundos. Em seguida, já com a família em segurança, ele volta e enfrenta o vento para soltar os animais. Um cavalo, uma vaca e um bezerro. E ainda salvou o cachorro! Passada a tempestade, já na manhã seguinte, quando eles vão verificar o que estragou, ou melhor, o que restou de suas coisas, de seus pertences, ele encontra o bezerro morto, soterrado por tábuas, exatamente no celeiro onde eles estavam e ele os soltara. A mãe do bichinho pastava tranquila ao lado. Charles Ingalls lamentou o ocorrido e disse que a vaca quis proteger o bezerro e o levou de volta ao local. Isso já me deu o que pensar. Pensei na relação mãe/filho, pensei na sinceridade do lamento de um fazendeiro acostumado com situações assim, mas que ainda se sensibilizava, pensei que aquela família passou por muitas coisas nos episódios que assisti até aqui. É uma história verdadeira, baseada nos livros que uma de suas integrantes escreveu, narrando tudo. Pois bem, o assunto que mais me chamou a atenção foi exatamente a necessidade do recomeço. Nesta série, que gosto tanto, o que eles mais fazem é recomeçar. Passam por muitas dificuldades financeiras e isso lhes traz muitos dissabores.
Recomeçar tem a ver com resiliência, não tem? A pessoa precisa de coragem e ânimo numa hora destas e é exatamente o que mais falta! Precisa se munir de toda resistência, achar soluções e continuar. Na maioria das vezes ela não tem muita escolha e se abater não vai adiantar muita coisa, embora seja quase inevitável. Tenho uma amiga que teve que amputar o pé em consequência de uma doença. Em pouco tempo ela reagiu, colocou uma prótese, adaptou o carro e voltou a trabalhar. Ela mesma diz que suas opções não eram muito boas, então, só lhe restava reagir. Não havia escolhas ou as escolhas possíveis eram muio piores, como ficar em casa se lamentando, se deprimindo, fazendo tricô e vendo TV. As pessoas que perdem seus bens numa enchente, num incêndio, se vêem tendo que reagir, pensar rápido e decidir o que fazer. A atriz Aracy Balabanian falava num programa de televisão, que quando seu apartamento sofreu um incêndio, ela perdeu tudo e saiu apenas com a roupa do corpo e a atriz Arlete Salles foi a primeira pessoa a procurá-la na manhã seguinte, levando-lhe solidariedade e roupas íntimas. A delicadeza do gesto, de pensar no mais impensável (mas necessário) numa hora destas, a comoveu e ela lembrava do fato até hoje. Sabe o que é uma pessoa ficar sem até mesmo uma roupa íntima pra trocar? Sabe o que é isso?
Uma pessoa que perde o emprego, um parente próximo, um animal de estimação, que tem uma doença como o câncer, por exemplo, precisa de forças para continuar. A vida da gente não pára por causa de eventos assim. No máximo dá uma 'baqueada', mas em seguida precisamos reagir e recomeçar. Como os Pioneiros. Como todo mundo.

CRÔNICA POSTADA EM 26.10.2011

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