sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

MAIS UMA DE TRÂNSITO


Por conta de um desses engarrafamentos, que mencionei no post TRÂNSITO III, meu carro 'ferveu' (soube depois que a tal de ventoinha não estava funcionando). Como estava bem no meio daquela barafunda, tentei colocá-lo no que deveria ser o acostamento (mas era uma 3ª faixa improvisada), liguei o pisca alerta e desci. Na chuva.
Estava escuro já às 18:30h e tentei pensar rapidamente no que fazer. Vi um posto de gasolina. O problema é que pra chegar até ele eu deveria descer um barranco gramado e molhado. Eu usava um sapato que já é por natureza escorregadio e me antevi como se estivesse num enorme tobogã, deslizando ladeira abaixo e chegando toda molhada e suja (mas sentadinha) bem na porta do posto, ao lado da bomba de gasolina. Tomei coragem e desci, com cuidado. Mesmo com meus presságios negativos, não escorreguei em nenhum momento e cheguei sã e salva ao meu destino. Procurei por uma frentista, uma mulher, pois certamente ela me entenderia e seria 'caridosa' comigo, me ajudando naquela situação. Expliquei que o carro ferveu, mostrei aonde ele estava (cerca de uns 100 metros, talvez menos) e que eu precisava de água para o radiador. Me senti tão autossuficiente em saber detectar o óbvio problema que até estranhei quando ela nem ligou e disse que não tinha como eu levar a água. Eu sugeri que poderia ser naquele regadores que eles tem (e que certamente ela deve usar todos os dias). Ela concordou e eu pedi que ela me acompanhasse, mas ela disse que não poderia sair dali, que estava 'em serviço' (nem parecia). Eu insisti umas 3 vezes, mas ela estava irredutível. Eu disse que já tinha tido dificuldades em descer o barranco e se tivesse que subir e descer mais três vezes (subir para levar a água, descer para devolver o recipiente, subir novamente para ir embora) não daria conta. Nada. Argumentei se ela não teria um gerente, um responsável, para pedir que a liberasse. Ela enrolou eu insisti, me propus a falar com ele e ela cedeu. Entrou numa loja de conveniência, eu a segui, falou com uma moça que a liberou, sem problemas, mas sugeriu que ela mandasse um outro funcionário, por que ele 'era homem' e entenderia melhor dessas coisas. Ela foi procurar o tal funcionário, provavelmente aliviada de repassar a missão. Eu a segui. Fiquei, porém, chocada quando ouvi ele dizer para ela (mas na minha cara, pois eu estava ao lado dela) : “Eu ir lá? Na chuva? Não! Na chuva eu não vou. Só depois que 'baixar' ( a chuva, claro).” Ele já era um senhor de uns 60 anos, mais ou menos, e eu fiquei estarrecida em como ele podia ser tão insensível, com uma pessoa precisando de ajuda (além de essa pessoa ser uma mulher,sozinha, a noite e na chuva). Apareceu neste momento um outro frentista com sotaque nordestino e perguntou o que estava acontecendo. Eu fui contar aquela historia novamente e deu um nó na garganta e comecei a chorar! Literalmente!O último resquício de dignidade jogado ao chão. Na mesma hora a mulher e o nordestino tentaram me acalmar e disseram que eles iriam lá, que eles me ajudariam. Eu parecia uma criança birrenta que finge um choro, por que na mesma hora que ouvi que eles me ajudariam, o choro passou e me acalmei. Seria hilário, se não fosse trágico!
Mas continuemos! O nordestino foi me acalmando pelo caminho, me deu a mão na subida do barranco, e conseguiu resolver o problema (colocar água no radiador) por módicos R$ 10,00 (que eu ofereci e ele aceitou sem constrangimentos).
Fui para casa, molhada, cansada e perplexa com a falta de solidariedade daquela gente. No fim deu tudo certo, mas eu realmente precisei chorar para que eles se compadecessem.
Quando eu estava lá parada ao lado do carro, antes de pedir a ajuda, nenhum motorista parou, houve um que fez gracinhas achando que era falta de gasolina e ainda houve aqueles que me xingaram por atravancar ainda mais o trânsito.
Deve haver muita gente boa por aí, mas nem sempre conseguimos nos encontrar...

CRÔNICA POSTADA EM 2011

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