quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A IMPERMANÊNCIA DAS COISAS



Há quem diga que “términos são novos começos”. Acredito nisso.
Mas não há como não se entristecer quando certas coisas chegam ao fim. Vamos aprendendo sobre a impermanência das coisas desde muito cedo, na infância ainda. Quando, já ao terminarmos a primeira série na escola, precisamos mudar de ano, de professora e, muitas vezes, de colegas ou até de colégio. Essa mudança, pra uma criança, dependendo da idade e da personalidade, pode ser muito traumática. Há outros exemplos como a separação dos pais, a mudança de casa, a chegada de um irmão mais novo, a morte de um parente querido, o brinquedo que estragou e não tem conserto...vamos aprendendo que as coisas tem um fim, que mudar se torna necessário.
É interessante observar as crianças construindo castelos de areia na praia. Elas tem tanta disposição e confiança no produto final, que nem se importam com o que fatalmente acontecerá: as ondas do mar chegarão e destruirão tudo. Quando isso acontece, mais uma vez depende da personalidade da criança. Tem aquelas que aceitam reconstruir e tem aquelas que ficam frustradas e até choram por que tudo se perdeu.
Há pessoas que passam a vida toda com dificuldades em aceitar as mudanças e nem se dão conta de quando isso começou. Mudar nem sempre significa perder, mas para algumas pessoas, isso está implícito. Elas não conseguem ver o que vão ganhar em troca, o que entrará no lugar do que se foi. Apenas associam mudança = perda. Mudar, para essas pessoas, significa, muitas vezes, perder o status quo (estado anterior) ou seja sair da zona de conforto, não conseguir controlar o novo, se sentirem inseguras.
Quando falo da impermanência das coisas e da tristeza a que isso muitas vezes remete, quero me referir as perdas que temos quando saímos da infância, da juventude, de um emprego, de um relacionamento. Quando aquele lugar que gostávamos de frequentar fecha, quando não fabricam mais um produto a que estávamos habituados, quando as passagens naturais da vida, de transição, nos obrigam a nos separar de amigos, de situações que nos faziam felizes.
Aceitamos que tudo precisa de movimento e que nada pode ser mesmo permanente, pois nem mesmo a vida é permanente (ela é finita). Mas isso tem um preço, por que cedo ou tarde bate o saudosismo. É normal ter saudade e é, talvez por isso, que os e-mail com objetos que saíram de linha, expressões que se usavam 'no nosso tempo', façam tanto sucesso e sejam tão repassados. As pessoas têm, por minutos, a sensação de voltar no tempo e sorriem, confortadas por trazerem de volta, mesmo que só na memória, um tempo que foi bom, prazeroso. Não me considero saudosista e acho que tenho boa tolerância para mudanças, mas é inevitável lembrar e relembrar de coisas que fizeram parte da nossa história e que, comparados a hoje, parecem sempre terem sido melhores do que realmente foram. Talvez por que estejam naquele vácuo do tempo onde fica nossa memória afetiva. E é incrivel o que essa memória faz! A gente sente cheiros, ouve sons, sente texturas...
Quando voltamos para a realidade, a nossa atual realidade, parece que estamos mesmo voltando de uma viagem no tempo. Parece que acabamos de chegar daquele lugar, daquela época que há alguns minutos relembrávamos. Dependendo da fase atual de nossa vida, se essas voltas ao passado forem constantes, podem gerar depressão. Por que? Por que se o momento atual não é feliz, a lembrança daquele tempo pode nos fazer sentir que o que era bom já foi, não volta mais e não poderemos mais ser felizes.
Uma vez fiz um trabalho na faculdade sobre dois filósofos, Parmênides e Heráclito. Um dizia que tudo é permanente e o outro exatamente o contrário, que nada permanece. Foi de um deles a famosa frase de que 'um homem não se banha no mesmo rio duas vezes' ( por que nem o rio é o mesmo, nem o homem). Tirei nota máxima, mas confesso que nunca, de fato, parei para refletir mais detidamente na profundidade desse assunto. Apenas hoje, ao escrever esta crônica, me lembrei disso.
Penso que 'é pra frente que se anda' e ouvi de um preto velho, certa vez, que 'os nossos pés são virados pra frente, por que é pra frente que se anda. O que tá pra trás, já passou. Esquece. Olha pra frente.' Sábios conselhos. Não foram ditos pra mim, mas aproveitei mesmo assim.
Tudo isso me surgiu, me assomou à mente, por que fiquei sabendo do fechamento de um lugar que me foi muito caro. Foi o fim de uma era. Achei necessário, entendi o fim, mas fiquei chateada por que o fechamento encerra um ciclo de vida.
Mas a vida é feita de ciclos, de etapas.
E como diz nosso sábio amigo, 'é pra frente que se anda!!”

CRÔNICA POSTADA EM 13/09/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário