quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A PULSEIRA


Meu post de estréia vai ser sobre uma crônica que escrevi em forma de diário, há um tempo atrás, sobre uma amiga querida, que chamarei de Dona Libélula, para não identificá-la.
Gosto de escrever crônicas e só muito tempo depois descobri ser esse o formato dos textos que escrevia sempre que sentia vontade de me expressar.
Portanto, aqui vai o Diário da Dona Libélula, que entrará em outros posts, à medida que ela for 'aprontando'...e me atualizando.

Querido Diário,

Certo dia, revirando meus guardados, descobri algumas jóias que quase já não usava, algumas em lastimável estado de conservação, outras avariadas e sem conserto...
Nesse momento, em um desses arroubos femininos de querer reaproveitar as coisas, reformar, etc., tive a idéia de fazer uma pulseira com todo aquele ouro mal aproveitado. Brilhante idéia, pensei eu, já feliz me imaginando desfilar com a pulseira.
Sabe quando a gente tem uma idéia ‘muito’ brilhante? Daquelas que a gente mesmo se surpreende com nossa ‘criatividade’? Aquelas em que tudo é fácil e até divertido? Naquele momento, eu só conseguia imaginar o joalheiro derretendo meus cacarecos do mais puro ouro, transformando-os numa linda e faiscante pulseira, com a qual eu combinaria minhas bolsas e vestidos(um pensamento tipicamente feminino, não acha?).
Bem, em minha costumeira inocência, me dirigi a uma joalheria próxima do trabalho (e que visito com freqüência, por que a esposa do ourives tem um puxadinho dentro da loja, sabe, em que vende roupas com 50% de desconto! Imagine só! Uma pechincha! E, feminina como sou, não posso perder liquidações, promoções e afins, claro...).Tudo bem que jóias misturadas com roupas são tuuuuudo pra uma mulher, mas devem ser compradas separadamente, uma vez que um comerciante que faz essas misturas de negócios, tipo: “Tudo por R$ 1,99” nem sempre mostra-se muito competente, concorda?
Pois bem, diário, dizia eu que fui até a loja multi-tudo e repassei ao casal de comerciantes minha fabulosa idéia de transformar meus ‘achados’ do fundo da gaveta em uma bela pulseira. Ele disse que sim, que faria a tal pulseira, e me deu uma que ele tinha lá pra eu experimentar.. Nesse momento (parece que ouço o rufar dos tambores, prenunciando o desfecho), sua esposa, minha mais nova amiga de infância, que sempre tem uma ‘coisinha boa’ em liquidação, sugeriu a ele: “Mede a pulseira por dentro, por que desse modo ela não ficará caindo sobre o dorso da mão, ficará mais ‘confortável’ ( ai, meu Jisuis! Mal sabia eu!).
Bem, ele me fez colocar a ‘pulseira-medidora’, depois retirá-la e sabiamente (!), riscou-a num papel por dentro. Nesse momento, algo dentro de mim, talvez um lampejo de sanidade, me fez ver o absurdo daquela ‘idéia’, parecia coisa de português, mas resisti a minha intuição feminina, que gritava “isso não vai dar certo !!”
No prazo marcado, fui até a loja, as essas alturas já um pouco apreensiva, pra retirar minha nova pulseira. Ao experimentá-la, gostei de seu efeito no pulso, mas achei-a um pouco fina demais. Isso já era um prenúncio dos próximos acontecimentos. Foi só quando quis tirar a pulseira do braço que percebi o quanto ela ficara justa. Com algum esforço e um pequeno arranhão na mão, a pulseira saiu. Paguei e saí. Já no meu trabalho, quis mostrar aos colegas como minha excelente idéia dera frutos. Novamente coloquei a pulseira. Todos a admiraram e disseram que ficou ótima, muito boa mesmo. Mais uma vez, ao retirar a pulseira, novo arranhão. Achei que talvez não estivesse sabendo flexionar a mão direito. Precisaria ‘treinar’ mais.
Já em casa, ao comentar com meu marido que a pulseira ficara pronta, ele quis que eu a provasse (lá vou eu de novo!) Só que tem ainda um detalhe: esse braço, o esquerdo, no qual eu provava constantemente a pulseira, estava com tendinite, ao ponto de precisar usar um imobilizador. Então, além da dor dos arranhões, eu ainda sentia a dor da tendinite).
Como já havia acontecido antes, ao retirar a pulseira pela terceira vez, ela não só produziu mais um arranhão, como ainda retirou a casquinha que se formara nas provações (bota ‘provação’ nisso!) anteriores.
Bem, diante deste quadro de ‘sofrimento contínuo’, resolvi voltar na loja e pedir pra alargar a pulseira. Chegando lá, informei ao casal ( eles estão sempre juntos) de que ‘achava’ que a pulseira estava um pouco justa e a mulher dele deu passo pra trás, assustada, exclamando: Ai, meu Deus! Não entendi sua surpresa e aparente preocupação, mas acompanhando seu olhar, percebi que ainda estava com o imobilizador e ela deve ter achado que eu havia até quebrado o braço, de certo...Bom, se continuasse daquele jeito, seria só o que me faltava mesmo...
Mas, continuando minha saga: o ourives não se deu por vencido e ainda me fez provar (oh, não!) outra pulseira, esta de prata, pra mostrar que fora por aquela que ele tinha medido, etc. e tal. A tal pulseira também arranhou um pouco meu braço, mas foi quando ele, num golpe mortal de misericórdia, me pediu (e insistiu!) pra que eu provasse novamente a minha pulseira. Ainda tentei argumentar, mas ele foi categórico e não tive outra alternativa. Na hora de tirar a pulseira, porém, constrangida, me virei de costas pra ele e choraminguei um aiiiiii baixinho, ao sentir novo arranhão (ou seriam ou antigos?)
Ele finalmente concordou em ‘dar umas batidinhas’ pra alargar minha pulseira de tortura medieval.
Como continuo com tendinite no braço esquerdo (aquele já todo arranhado, lembra?), fui pra fisioterapia. Ao chegar lá a profissional, delicadamente colocou um aparelho com gel no meu braço e eu gemi um aaaaiiiii! E ela, assustada: Ai, desculpe! Mas eu logo tratei de desfazer o equívoco, por que a seria primeira vez que passar gel no corpo doeria, né? Ela achou que colocou muita força no movimento e eu a tranquilizei de que estava só com um arranhãozinho...

CRÔNICA POSTADA EM 2011

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