quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ENVELHECER


Dizem que “envelhecer é inevitável, mas amadurecer é opcional”. Concordo.
Não basta viver muitos anos pra uma pessoa aproveitar o aprendizado constante da vida. Muitas pessoas passam pela vida como eternos adolescentes, sem perceberem que o tempo passou.
Ser jovial é uma coisa. Mas achar que ainda tem 20 anos, quando já passou dos 60, e querer vestir-se e comportar-se assim já é demais.
Outro dia, um amigo que tem 60 anos, se referia a uma mulher nossa conhecida como 'velha', 'coroa'. Ocorre que esta mulher tem uns 61, 62 anos. E eu perguntei a ele: “quantos anos tu tens?” E ele: “60”. Eu, então, completei: “ Ela deve ter uns 61,62...Ainda é velha? “e rimos os dois.
Já vi isso muitas vezes. Pessoas comentando sobre fulano ou sicrano que está envelhecido, mas sem se darem conta de que também envelheceram. Estamos falando aqui de idade, não de aparência.
Na nossa sociedade a aparência conta muito e envelhecer não é bem visto. Por isso, as pessoas fazem verdadeiras loucuras em busca do corpo e rosto perfeitos. É muito ridículo uma mulher idosa, cheia de botox, praticamente deformada, querendo aparentar uma idade que ela não tem mais faz tempo. Não engana ninguém. Os casos mais graves são diagnosticados como dismorfia corporal. O Transtorno Dismórfico Corporal é uma doença que faz com que a pessoa enxergue sua aparência de forma distorcida, muitas vezes negativa. São aquelas pessoas que deformam o corpo e/ou rosto com cirurgias plásticas e outros procedimentos estéticos e nunca estão satisfeitas. Exemplos disso são o Michael Jackson e a Elza Soares. Alguns não aceitam a própria aparência a vida toda e há aqueles que começam a fazer isso quando estão envelhecendo. É muito comum no meio artístico. Eles dizem que trabalham coma imagem e precisam estar bem no vídeo, ams acho que tem mais por trás disso, tem a ver com a própria vaidade e com o medo de serem rotulados de velhos, 'acabados', ultrapassados, que já não produzem mais como antigamente. É assim que nossa sociedade vê o envelhecimento. Penso que devemos 'estar bem', em paz com nossa aparência, e, se for necessário alguma mexidinha pra melhorar isso, não vejo problemas. O problema reside naquelas pessoas que não se aceitam velhas. Mulheres como a Suzana Vieira que, quase aos 70 anos, se veste como uma mocinha de 20, de minissaia e tudo. Não vejo isso como preconceito de minha parte, mas como bom senso. Certas coisas só ficam bem no tempo certo, na época certa. Tem um político local que sempre que aparece no video fico dividida entre o divertimento e a compaixão. Ele usa um corte de cabelo, provavelmente desde que era jovem, aos 20 anos, e hoje ele deve estar por volta dos 60. Não o conheci aos 20, mas aquele cabelo, com certeza, é dessa época. Parece um cabelo de surfista, repartido no meio, com franja jogadinha pra trás, sabe? Não combina! São pessoas que pararam no tempo e se vestem e comportam como estivessem naquela época áurea da juventude. E como isso é comum! Acho tão bonito a pessoa que envelhece com dignidade...A Marília Pera, por exemplo, a gente percebe que ela andou fazendo alguma coisa no rosto, mexendo aqui e ali, mas não dá pra perceber o que foi, ao certo.
Também acho legal a independência de pessoas idosas, que fazem tudo sozinhas e até já são internautas, se locomovem e se ajustam ao tempo presente com facilidade, acompanhando a evolução. Mas ás vezes me surpreendo e penalizo ao ver pessoas que não tem mais condições e mesmo assim, insistem nessa independência, muitas vezes por orgulho e teimosia. Outro dia, estava no banco e vi um senhor que devia ter mais de 80 anos, mal andava, falava bem alto e também não escutava direito. Ele conversou com pessoas de um guichê, de uma mesinha de atendimento e era aquela gritaria pra ele entender e depois quando ele respondia. Depois, ele foi ao caixa e ficou na fila dos idosos, no guichê preferencial. Quando chamaram, ele ficou todo perdido, mal andava. Não entendia qual guichê era pra ir e foi em um por um e todo mundo tentando ajudar. Pessoas assim são facilmente vítimas de assaltos, golpes e muitas outras maldades por aí. Hoje, quase vi um velhinho ser atropelado, simplesmente por que ele queria cruzar 4 vias, duas num sentido e duas no outro, só atravessando a faixa de pedestres, sem nem olhar se vinha carro. Pensei que iria ver o velhinho sobrevoando o meu carro em segundos.
Há aqueles que ainda dirigem e são um verdadeiro perigo! E que ainda gostam de estufar o peito e dizer: eu nunca bati! Pudera! Todo mundo desvia dele! Os outros é que evitam um acidente, mas ele acha que é muito bom no volante. É certo que são mais cuidadosos, mas não tem boa atenção, nem bons reflexos, são mais lentos, indecisos...
Envelhecer, pra muitos, é difícil por que também lembra a proximidade com a morte.
Pra outros, significa não ter mais beleza, nem agilidade, nem memória. Significa limitações, restrições.
É certo que o envelhecimento nos trás algumas limitações, sim, mas se estamos amadurecendo em igual proporção, conseguimos compreender esse processo e nos adaptarmos a ele.
Um exemplo de velhice que gosto é a Dona Canô, mãe do Caetano Veloso e da Bethânia. Ela tem 104 anos e uma lucidez, uma sabedoria, que é muito bom de presenciar. Gostaria muito de ser uma velhinha assim. O Oscar Niemeyer é outro exemplo. Passou dos 100 anos e continua ativo, indo ao escritório diariamente e produzindo! Lúcido, lúcido, lúcido!
Se cada um de nós puder envelhecer e amadurecer proporcionalmente será, com certeza, um exemplo como esses citados.
Na juventude deve-se acumular o saber. Na velhice fazer uso dele”. (Rousseau)

CRÔNICA POSTADA EM 05/10/2011

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