sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

QUERIDO DIÁRIO



Quando adolescente tive inúmeros diários. Normalmente eram cadernos do tipo universitário, pois sempre falei bastante e escrever não é diferente. Comecei com aqueles tipo agendinha, que ganhei no meu niver e tinha até cadeado. Medida desnecessária pelo menos pra mim, por que deixava a chave junto com o cadeado, mas guardava bem escondidinho. Ou seja, confiava mais no meu esconderijo do que na fechadura do diário...
Acho que diário desperta curiosidade nas pessoas mesmo, é natural. E muitos deles viraram livros, filmes...
Mas apesar de tantos cuidados, houve um dia, quando estava acho que na 5ª série, com cerca de 11 anos, e esqueci o diário em algum lugar da casa. Meu irmão Alexandre achou o diário e pôs-se a ler e a debochar de mim, por que descobrira ali um segredo mortal! Um segredo que eu guardava literalmente a 7 chaves: um amor platônico. Era por um menino de lindos olhos azuis esverdeados, um tom de azul turquesa, que estudava comigo. Chamava-se Jaldir e era líder da nossa sala. Me apaixonei primeiramente por aqueles olhos, mas depois pelo jeito dele. Mas ninguém sabia. Eu tinha vergonha e apenas no diário escrevia coisas bobinhas sobre ele ter me olhado diferente, ele ter faltado, ele usar uma roupa bonita...minhas angústias e alegrias quase infantis, que eu dividia com aquela agendinha e que meu irmão descobrira e escancarara! Me senti invadida e mortificada.
Tentei não demonstrar o quanto aquilo me abalara, mas acho que fiquei meio traumatizada, por que passados mais de 30 anos ainda lembro...Mesmo assim, continuei a escrever no diário, mas redobrei a vigilância. Quando aquele acabou, iniciei outro e mantive o hábito até uns 25 anos mais ou menos.
Ali ficava registrado a ansiedade, aos 15 anos, por uma festa, os outros amores platônicos, os verdadeiros, que se realizaram, as contrariedades, as dúvidas, angústias, alegrias, viagens, segredos diversos. O diário funcionava como um confidente mesmo, e ali externava tudo o que apenas pensava e não conseguia, ou não queria, dividir com mais ninguém. Expressar no papel, materializar o pensamento, ajudava a esclarecer muita coisa internamente. Quando terminava de escrever, muitas vezes chorando, sentia muito alívio e tinha dias que escrevia até duas ou três vezes, aos poucos, a cada fato novo que acontecia.
Na maioria das vezes sentia mais necessidade quando tinha algum problema, pois nas alegrias registrava para poder me lembrar futuramente.
Depois de adulta, um dia reli os diários e resolvi jogar tudo fora. Não queria correr novamente o risco de ver minha intimidade exposta e também por que aquilo tudo já havia sido superado.
A necessidade de escrever, porém, permaneceu. E aí nasceu esse blog!

CRÔNICA POSTADA EM 20.05.2011

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