sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

INFÂNCIA ROUBADA



Outro dia estava lendo uma reportagem (na internet) que versava sobre uma mãe que vestiu a filha pequena de prostituta para participar de um concurso. Numa reportagem anterior era sobre o uso de sutiã com enchimento para meninas de 5 ou 6 anos (“ Especialistas condenam venda de sutiã com bojo para crianças de 6 anos” - Jornal do Brasil de 06 de abril de 2011). Desta mesma reportagem destaco o trecho "Na faixa dos 6 anos de idade é comum as crianças terem consigo o narcisismo e até quererem se vestir como a mãe. O que não pode acontecer é o mercado incentivar a erotização e a antecipação da sexualidade" (Maria Luiza Bustamante - psicóloga da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)
Numa outra revista li uma matéria que falava sobre mães que levavam as filhas para o salão 'por que elas pediam'. Esta matéria é recente, do mês passado, acho, mas também li na internet numa outra revista, mais antiga, que já na época abordava o mesmo assunto. Vejamos: “Em vez de estampa de oncinha, elas usam cor-de-rosa. Se pudessem, calçariam salto alto todos os dias. Brincam de desfile de moda, freqüentam salão de beleza e, às vezes, preferem ganhar roupa a brinquedo. Tudo o que é da Barbie é o máximo - se for de pelúcia, melhor ainda. Elas são a versão mirim das peruas, um fenômeno cada vez mais precoce entre as meninas. 'O culto à beleza feminina é um valor disseminado na sociedade moderna. De forte apelo comercial, está contribuindo para o encurtamento da infância. As meninas querem ser mulheres cada vez mais cedo', alerta a psicóloga Isabel Gomes, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Para ela, a menina querer se vestir e se maquiar como a mãe, por mais peruinha que pareça, não é um problema em si. 'Copiar um modelo adulto é perfeitamente saudável, faz parte da infância. Mas é preciso saber diferenciar: criança não é um mini-adulto', diz. (Perigosas Peruinhas – revista Crescer – março de 2004)
Há também um canal de TV que apresenta uma série sobre os concursos de misses infantis nos E.U.A.
O que está acontecendo, afinal? O que foi que eu perdi?
Lembro de que quando eu era criança, as crianças eram crianças! Brinquei de boneca até uns 12/13 anos. Quando eu tinha uns 5 ou 6 anos, recordo de gostar de usar os sapatos ou sandálias de minha mãe e ela só permitiu que eu usasse batom aos 15 anos! Ela também sempre escolheu minhas roupas e embora nem sempre concordasse com o que vestiria, nunca questionei ou me recusei a nada. Na verdade, não me importava com isso. Só não gostava de roupas que não me dessem liberdade, ficassem curtas ou justas. Por muitos anos odiei a cor vermelha, por que minha mãe só me vestia com essa cor na infância e eu nunca fui muito adepta. Depois de um tempo consegui me entender melhor com o vermelho e as pessoas costumam me dizer que fica bem pra mim.
Minha sobrinha tem 6 anos recém completos e é uma mistura de tudo isso. É vaidosa, gosta de escolher suas roupas, o que combina, adoooooora a cor rosa, já pediu o tal sutiã, quer passar batom (brilhinho) e esmalte, mas ao mesmo tempo é bem moleca e não sabe nem sentar de vestido.
Mas me preocupa essa necessidade dessas mães de incentivarem isso, de permitirem que as filhas se maquiem, se vistam como adultas. Quando serão crianças, então?
Além de ser vulgar, as mães acham ' bonitinho'!
É legal quando a criança tem uma vaidade moderada, quando quer ficar bonita e escolhe uma roupa, uma cor, até mesmo o brilhinho, em casa, fica legal. Mas daí a frequentarem salão (pra fazerem escova no cabelo e as unhas, sobrancelhas e etc.), usarem sandálias de salto, maquiagem, e até mesmo fazerem plástica (pasmem!), vai um longo e delicado caminho.
Infância é tempo de brincar, do lúdico, do pueril. Não é tempo de se preocupar com uma etapa que virá mais tarde, no tempo certo.
Me parece que essas mães se realizam através das filhas. Se projetam na criança e a levam aos concursos de beleza, tentando satisfazer a própria vaidade. É normal que um pai ou uma mãe ache seu filho/filha lindo e que queira mostrá-lo ao mundo, mas não é normal que transforme a criança num mini adulto, se preocupando em excesso com a aparência.
Isso mostra os atuais valores de nossa sociedade...
Tenhamos todos um pouco de bom senso e não alimentemos a indústria da beleza...
Que possamos, isso sim, ser criança quando criança e não um adulto infantilizado.

CRÔNICA POSTADA EM 19.09.2011

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