quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

GRATIDÃO



Natal, fim de ano, é época de dar e receber presentes, de ser generoso. Mas, durante todo o ano, muitas vezes não conseguimos (ou não podemos) ser assim.
Não falo apenas dos presentes de natal, das 'lembrancinhas', mas do sentimento de generosidade que aflora coletivamente nesta época. Nos sentimos mais amorosos e, consequentemente, mais generosos também. Buscamos na memória aquelas pessoas a quem gostaríamos de enviar pelo menos um cartão e, com isso, demonstrarmos nosso apreço por ela, nossa gratidão em algum estágio. Gratidão? Sim, gratidão. Podemos ser gratos por recebermos um benefício, mas também apenas por sermos amigos.
A gratidão não eleva somente aquele que dá, mas aquele que recebe também, pois é um sentimento puro, que muitas vezes nos emociona e nos faz querer retribuir. Uns retribuem por orgulho, para “não deverem nada pra ninguém”. Estes não alcançaram o significado do gesto, o real sentido. No mínimo têm medo de serem 'cobrados' no futuro. Pensam que ficaram reféns de um favor, de um gesto amigo e por isso se sentiram 'menores', inferiores, em desvantagem.
A gratidão, a verdadeira, não diminui ninguém. Pelo contrário! Quem se sente grato, se eleva! Quem se sente grato, experimenta um sentimento genuíno de pura felicidade, de se ver alvo de um gesto carinhoso. Não vê segundas ou terceiras intenções, mas apenas e tão somente aquele gesto, naquele momento. Entende que, por mais que a pessoa que fez a gentileza, o favor, seja mesquinha a ponto de 'cobrar' futuramente, naquele momento ela teve um gesto de nobreza, um momento em que se elevou ajudando alguém.
Quando fazemos algo em benefício do outro, penso que não devemos comentar com ninguém. Devemos até mesmo esquecer. Senão, qual o sentido do benefício? A lisonja? O outro nos cumprimentar por um gesto espontâneo de amor? Se a intenção foi apenas beneficiar aquela pessoa, ajudá-la no momento em que ela precisou, tenha ela pedido ou não ajuda, já tivemos o nosso 'pagamento', que foi a satisfação de poder ajudar. Ninguém mais precisa saber disso. Fomos tão somente um ' instrumento' a fim de canalizar o que a pessoa precisava.
Quanto mais gestos de generosidade, de amor, silenciosos, mais nos elevamos diante de nós mesmos, por que sabemos que muitas vezes fizemos sacrifícios para poder cumprir o que nos propomos.
Minha sobrinha tem apenas 6 anos, mas já a vi ter gestos de gratidão muitas vezes. Ela é uma pessoa grata. Fica tão feliz quando recebe algo que quer muito, que não sabe como agradecer, o que fazer. Fica agitada, corre de um lado pro outro, nos beija inúmeras vezes, se emociona (dá pra ver seus olhinhos brilhantes), que não tem como a gente não sentir que o sentimento de gratidão é 
mesmo muito nobre. Ela é uma criança e já sente isso.
Já fui chamada de ingrata muitas vezes (normalmente pela mesma pessoa), mas apenas por aqueles que me ajudaram e depois 'cobraram'. São pessoas que acham que eu lhes devo algo por terem me ajudado e naquele momento criaram expectativas para que eu fizesse o que eles queriam, por que estava com uma 'dívida emocional' implícita no nosso código de relacionamento.
Nesses momentos me sinto muito mal. Mas não por que tenha a sensação de ser ingrata, mas pelo fato de a pessoa não me conhecer direito. Sou profundamente grata quando alguém me faz algo, chego a me emocionar. Tenho, sim, vontade de retribuir até materialmente, com um presente, mas muitas vezes me seguro, por que não quero ofender a pessoa. Sei que ela teve apenas boa intenção e o presente estragaria tudo.
Não sinto que lhe devo algo, mas lembro sempre do que ela fez, principalmente quando a necessidade do favor é muita. Há pessoas que são tão nobres e discretas no gesto que aumenta ainda mais a gratidão.
Li outro dia que a Carolina Dieckmann dizia que agradece mais do que reclama. Não sei se acreditei nisso, mas percebo que a maioria de nós faz o contrário. Eu mesma reclamo muito e me esqueço de agradecer pelo que tenho. Uma coisa é a gente ser grato com quem nos ajuda, nos beneficia, mas outra é a gente ser grato todos os dias, com a vida, com Deus. A maioria de nós sempre se sente insatisfeito por não conseguir tudo que quer (e nisso não só no lado material, mas emocional, espiritual, etc.)
Quando temos um problema, muitas vezes ele se agiganta e nos sentimos tristes por tê-lo. Mas ao observarmos melhor, percebemos que aquele problema nos ensinou muito, principalmente sobre nós mesmos.
Isso também é gratidão.
Que em 2012 aprendamos a agradecer mais e reclamar menos. Que possamos ver o real sentido das coisas e do que nos acontece, com um olhar generoso. E grato. Por tudo.

CRÔNICA POSTADA EM 19.12.2011

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