quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

NÃO JULGAR



Juro que quando comecei essa crônica cheguei a pensar que “Não Julgar” fosse um dos 10 mandamentos. Fui pesquisar e tudo! Parecia tão crível que fosse, tão natural!
Mas não é. Recordei as lições de catecismo e vi que realmente não tem nada lá que fale em não julgar. O mais próximo disso é “não levantar falso testemunho”, mas aí já tem outra conotação, como a calúnia.
Sempre defendi que as pessoas devem ter uma opinião e não ter vergonha, nem receio de usá-la. Mas nunca quis dizer, com isso, que deveriam julgar os outros. E é tão comum, não é?
Nós avaliamos e julgamos os outros o tempo todo. Na maioria das vezes até inconscientemente.
Com base em nosso valores, nosso modo de ver a vida, nossa educação, nossa cultura, tachamos o outro para ver se ele se encaixa ou não dentro de nossos padrões (muitas vezes rígido).
E tudo isso é tão paradoxal, tão controverso, por que quem somos nós pra decidir o que é melhor para o outro, se ele está certo ou não, se deve ou não fazer tal coisa. É claro que existe um código moral implícito nas sociedades e foi assim que elas se formaram, por que senão viraria uma bagunça, uma terra-de-ninguém, em que cada um faz o que quer. À isso chamamos 'civilidade'.
Também há a lógica, o senso comum, um modo mais ou menos 'certo' de ver e fazer as coisas.
Outro dia, duas situações me chamaram atenção e foi aí que pensei nesta crônica. Vi num programa jornalístico de TV local, que uma mulher havia sido fotografada de topless numa determinada praia catarinense. Quem transmitiu a noticia é um formador de opinião e disse que se pra nós aquilo escandalizava, na europa é muito comum. É verdade. Mas ocorre que não estamos na Europa, nem somos europeus. Na cultura deles isso é aceitável e não é um tabu. Na nossa, não. Não sou antropóloga, nem estudei as bases da civilização e a formação das sociedades, mas ainda somos rígidos com certas coisas, muitas vezes de forma contraditória, por que nesse exemplo, a turista (provavelmente) fez topless e chocou as pessoas ao redor dela. Mas no carnaval pode ter mulher inteiramente nua, inclusive a 'mulata globeleza', coberta somente com purpurina nas chamadas dos intervalos da programação de tv, em qualquer horário. Na praia, não.
É estranho, não é? Será porque ela está dentro de um contexto (carnaval)? Mas se fosse assim, a mulher de topless na praia também não estaria, uma vez que ela está num local muito quente, ao ar livre, de certa forma até mais apropriado? O que determina que seja certo ou errado, nesse exemplo, já que os dois são eventos públicos? O que diferencia? Vai atacar a moral e os bons costumes? Um código de conduta? O que nos faz ser permissivos com uma situação e não com outra? Não estou com isso querendo dizer que defendo o topless, mas apenas provocar uma indagação, uma reflexão.
No segundo exemplo a que me referi, foi um programa americano de TV (como assisto TV, não? Impressionante!) chamado Chega de Breguice! Em que os apresentadores vão à casa brega, com a cumplicidade de quem solicitou a intervenção, 'enganar' o dono do imóvel, fazendo-se passar por outro programa, que tem a ver com estilos e tendências. A pessoa se sente orgulhosa de estar num programa assim e depois descobre (chocada e constrangida) que os motivos são outros. Fico com vergonha por ela. Mas eles tem razão (só vi dois programas até agora) na maioria dos casos, por que realmente é de um mau gosto incrível a casa daquelas pessoas (viu só? Como é fácil julgar?). Percebi que o problema deles é o exagero, o excesso. No fim do programa, os donos da casa reconhecem que com a reforma, a transformação, ficou muito melhor do que estava. É inegável que dá uma repaginada bem feita no visual e todos ficam contentes com os resultados.
Mas e aí? Fiquei pensando mais uma vez sobre isso, sobre quem determina o certo e o errado. O senso comum? Por que temos dificuldades em simplesmente aceitar o gosto do outro? A casa é dele, ele mora lá, ele gosta assim, por que isso nos incomoda ao ponto de ter até programa de TV pra discutir isso? A pessoa que solicitou a transformação pode não gostar e morar lá também, mas apesar de uma traição com o dono da casa, ela até tem esse direito. Mas nós, que nem conhecemos a criatura, definitivamente, não.
E é engraçado como isso se repete em tudo, já percebeu? Por que as pessoas gostam de Big Brother? Por que as pessoas comentam crimes? A novela das 8? Por que todo mundo tem que 'achar' alguma coisa? Isso não é ter opinião formada, mas 'achar' algo simplesmente, julgar, condenar.
Isso se repete com o corpo do outro (se é gordo ou magro, se é baixo ou alto, se tem esse ou aquele defeito). Se repete com o que o outro veste, calça, usa. Se repete com as ações, decisões (“se eu fosse tu, faria assim ou assado”, é como se começa a 'dar uma opinião' sem que ela seja pedida).
Em tudo opinamos, muitas vezes de forma cruel, outras de forma dissimulada, outras categóricas. “Achamos” que sabemos o que é melhor para o outro!
Muitas vezes a experiência conta, mas aí não é julgamento de valores. Apenas uma contribuição a quem precisa ou pede. E onde começa essa tênue e frágil fronteira?
Julgar é extremamente fácil, por que incontáveis vezes é feito de forma leviana, inconsequente, onde sabemos apenas a metade da situação, mas não os porquês. Quantas vezes não deduzimos algo, julgamos, pré-concebemos, e descobrimos depois, aterrados, que estávamos enganados?
Julgar é se achar em condições de estar acima do outro de alguma forma.
E como é difícil não fazer isso, não? Eu mesma me vi fazendo isso recentemente e me condenei intimamente por ter tais pensamentos. Observei que a roupa de uma moça não era adequada ao ambiente, era imprópria, talvez até indecente, mas nada falei, mesmo por que eu nem a conhecia. Só que pensei! Não foi uma critica moralista ou mordaz, mas apenas uma constatação, nada mais. Naquele ambiente não cabia. Talvez num shopping ou algo assim. Só que severamente fiz essa observação, mesmo que de forma íntima.
Julguei!
E quem sou eu pra decidir o que ela deve ou não vestir? Quem me deu esse direito? O que é que eu tenho com isso? Invejinha? Não. Definitivamente, não. Em nenhum momento isso me passou pela cabeça, mas sei que muitos poderiam achar isso, pois é bem comum.
O ser humano tem essa capacidade de julgar, condenar, tachar o outro. É assim que nascem os preconceitos (percebeu? Pré-conceito).
Vamos deixar o ato de julgar, com propriedade, pra quem de direito entende do 'riscado'?
Sim, um juiz!
E estamos conversados!


Nenhum comentário:

Postar um comentário