quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

MAIS UMA DA DONA LIBÉLULA ! O VESTIDO


Querido Diário,

Certo dia, estava eu apressadamente saindo do trabalho para acompanhar minha mãe à fisioterapia que ela fazia no joelho, quando me deu vontade de um xixizinho. Pensei até em não fazer o tal xixi, mas a gente ouve tantas histórias de pessoas (mulheres, no caso), que tiveram infecção urinária por reter o xixi e etc., que resolvi ir ao W.C. ( é melhor não facilitar, né?)
Sabe, diário, sempre fui um tanto ‘avoada’ e meu pensamento nunca está onde deveria estar. Isso já me trouxe inúmeros problemas e até alguns constrangimentos, mas eu vou seguindo a vida, até por que minha boa auto-estima compensa...
Naquele dia fatídico, eu, como de hábito, estava pensando no tantão de coisas a fazer, no trânsito, se iria dar tempo de voltar ao trabalho depois da sessão, nas compras a fazer no supermercado, no trabalho que eu havia interrompido para sair e mais uns ‘trocentos’ assuntos. Automaticamente, fiz todos os procedimentos para me livrar daquele excesso de líquidos que faziam minha bexiga reclamar (nesse ponto ela já estava até gritando!). Rapidamente lavei as mãos, sequei, mas nem deu tempo de mais uma olhadela no espelho pra conferir se estava tudo certo. Ao sair da empresa em que trabalho, encontrei um colega fumando logo ao lado da porta de entrada.Esse colega é um senhor de uns 70 anos, muito respeitável e discreto. Nos vemos sempre, nos cumprimentamos, mas raramente conversamos. Sabe como é, né? A gente trabalha em setores diferentes, em andares diferentes e os dias passam sem que tenhamos oportunidade de nos falarmos mais. Com minha costumeira auto-estima lá em cima e meu andar apressado, passei por ele toda lampeira, a caminho do compromisso. Tive ainda o cuidado de cumprimentá-lo (ironicamente eu conseguia chamar ainda mais a atenção sobre mim naquele momento, embora sem nem desconfiar do que tinha acontecido), sorrindo, inocentemente e seguindo meu caminho. Ao chegar mais ou menos na metade do meu trajeto até o estacionamento, mas ainda bem dentro do campo de visão do meu colega, senti um leve friozinho nas partes baixas. Estranhei, apalpei e descobri, chocada (!) que quando fiz meu ‘xixi- express’, deixei a ponta do vestido, uma parte da barra, na verdade, presa na calcinha ! Imediatamente me lembrei do colega solitário lá atrás, fumando seu cigarrinho e com todo aquele ‘panorama’ diante de si. Eu deveria ser a própria ‘visão do paraíso (ou do inferno, dependendo do gosto) ambulante’! Meu Deus! E agora ?
Diárinho querido, tal qual uma porta bandeira em dia de desfile de carnaval, fiz um giro de 180º e flagrei o pobre colega acompanhando meu ‘suave balouçar a caminho do mar’, certamente lembrando da Garota de Ipanema que eu protagonizava naquele momento...
Ele, flagrado nesse instante de contemplação saudosista, valorizando os atributos da mulher brasileira, deve ter se sentido como se sua própria esposa o olhasse com olhos fulminantes e baixou o olhar até quase encostar o queixo nos botões da camisa que usava.
O que fazer, diário? Juntei o resto de dignidade que me sobrou, baixei o vestido maldito, virei lentamente como naqueles comerciais de xampu e segui, altaneira e garbosa, como uma lady, até o estacionamento...


CRÔNICA POSTADA EM 2011

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